‘Twister’s’ não se apoia na nostalgia e diverte

Ítalo Passos
4 min readJul 12, 2024

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Continuação do clássico de 1996, alcança um equlibrio narrativo através de seu casal de protagonistas e do visual imponente dos furacões.

Twister de 1996, dirigido pelo Jan de Bont (Velocidade Máxima) deve ter sido um dos filmes que mais vi durante a minha infância, sempre que passava na TV aberta em um sábado à tarde — horário em que era comum passar filmes de tragédia na época — eu estava lá. Então, sempre tive um apego emocional com o filme, revi recentemente, e mesmo não sendo um “grande” filme, ele entrega um melodrama que reacende um amor entre dois personagens, através dos tornados. Além de, ter efeitos visuais bem bonitos, o que é fundamental para que tenhamos receio pela vida dos protagonistas.

Vinte e oito anos depois, comandado pelo Lee Isaac Chung (Minari), temos uma continuação, não da história que vimos no primeiro filme, mas uma representação contemporânea das pessoas que tem que conviver com esse fenômeno da natureza, outras que buscam entender, e como em um bom mundo capitalista, outras que buscam lucro.

Kate (Daisy Edgar-Jones), é uma jovem que estuda os tornados em busca de diminuir os efeitos trágicos trazidos pelo fenômeno em Oklahoma, durante um experimento com seus amigos, as coisas não saem como o esperado e Kate acaba perdendo quase todos seus amigos, incluindo o namorado. Sobrando apenas Javi (Anthony Ramos), ambos seguem seus caminhos e se afastam, até que anos depois, Javi reaparece na vida de Kate — que agora vive em Nova York — com uma proposta para retornar a Oklahoma para testar um novo equipamento revolucionário, que pode ajudar a Kate a realizar o seu sonho.

Ao mesmo tempo que o filme traz essa abordagem sobre como a ciência pode ajudar as pessoas, temos o outro ponto da situação, onde a internet se torna um elemento importantíssimo para a linguagem do filme. Tyler Owens (Glen Powell), é um “Youtuber” e meteorologista, que se arrisca em meio aos tornados para criar conteúdo para a internet, e esse conceito já é interessante por si, mas o personagem traz como um plano de fundo, um excelente contraponto que se mostra a equipe em que Kate aceitou acompanhar. Enquanto Tyler faz isso para, além de arrecadar fundos para manter sua operação, ele busca ajudar os afetados pelo fenômeno através da venda de camisetas para turistas.

Eu estava bem curioso para ver como Lee Isaac Chung iria lidar com um filme tão diferente de Minari, pois, Twister’s tem uma abordagem bem maior, em relação a grandeza de um filme-tragédia, com grandes efeitos visuais e etc. já, Minari, é um filme mais intimista, que trabalha a relação de uma família com grandes diálogos e um ritmo menos acelerado.

Chung consegue criar um equilíbrio narrativo bem eficiente, enquanto consegue desenvolver um relacionamento cheio de química entre Kate e Tyler, aos moldes clássico do cinema, com o primeiro contato entre os dois ser de uma certa rejeição e alfinetadas, e vai evoluindo, com ambos compreendendo o passado do outro, as experiências traumáticas em situações de sobrevivência. Essa relação vai ganhando corpo e com os carismáticos Glen Powell e Daisy Edgar-Jones, onde não soa forçado, ou irrelevante. Isso mostra que além da direção ser equilibrada nesse ponto, a história pensada pelo Joseph Kosinski (Top Gun: Maverick), junto ao texto de Mark L. Smith, consegue entregar um peso emocional, que mesmo não sendo algo tão profundo, é o suficiente para fazer aquela relação funcionar.

Os efeitos visuais e sonoros criam uma atmosfera aterrorizante nas cenas de ação, os tornados são bastante críveis, enquanto o som cria um grande sopro que soa como grandes mamíferos marinhos “gritando”, é uma atmosfera intimidadora.

O filme traz referências a outras obras, a que tem mais destaque é O Mágico de Oz, onde cada time da equipe de Kate serem nomeados como personagens do clássico.

É claro que o filme conta com a clássica exagerada estética patriótica norte-americana, o que é um padrão em filmes de Hollywood. Mas aqui, Lee Isaac Chung, mostra um certo fascínio pela bandeira dos EUA, mostrando-a até em peças de roupa da protagonista. O que torna toda a trama da virada da personagem ao entender que a equipe que a estava ajudando, era nada menos do que contratados de um empresário, para conseguir melhores acordos por aquelas terras devastadas, se aproveitando da fragilidade daquelas pessoas, que poderia ser uma crítica bem desenvolvida, acaba soando bobo.

Twister’s é sim um bom blockbuster, que sofre dos mesmos problemas de vários outros blockbusters, mas se destaca pelo equilíbrio narrativo, que mescla bem o melodrama com o clássico filme desastre.

Nota: 3,5/5

Direção: Lee Isaac Chung

Ano: 2024

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