‘Planeta dos Macados: O Reinado’ esbanja qualidade visual, mas se mantém no lugar comum

Ítalo Passos
4 min readMay 9, 2024

--

Agora nas mãos de Wes Ball, a série de filmes que tinham Caesar como figura central e representativa, foca na ação e na repetição.

Planeta dos Macacos é uma franquia curiosa, o original, Planeta dos Macacos, lançado em 1968, dirigido pelo Franklin J. Schaffner, se tornou uma ótima adaptação do livro homônimo. Ambos se tornaram clássicos, tanto na literatura, quanto no cinema, pois, a história de um viajante espacial humano que cai em um suposto planeta que tem os macacos como espécie dominante, é, no mínimo, interessante. Claro que não só pelo tema, são duas obras muito bem elaboradas em suas linguagens.

Mas a franquia seguiu, e foram feitos mais quatro filmes entre 1970 e 1973. Então, no ano de 1980 foi feita uma minissérie de TV, rendeu um documentário em 1998, até que veio o Planeta dos Macacos (2001), de Tim Burton. Um filme que definitivamente não me traz boas lembranças. A série acabou saturando naquele período adormeceu por 10 anos, até que veio Planeta dos Macacos: A origem (2011), pelas mãos do diretor, Rupert Wyatt, que trouxe novos ares e personalidade para a série.

Nos apresentando Caesar, e sua liderança na revolução dos macacos. Rupert Wyatt abriu caminhos interessantes para a franquia seguir elaborando essa personalidade, mas por divergências criativas, a sequência acabou nas mãos de Matt Reevs, que em Planeta dos Macacos: O Confronto (2014) e Planeta dos Macacos: A Guerra (2017), soube expandir a personalidade iniciada por Wyatt, transformando Caesar em uma figura poderosa e inquestionável. Como a maior representação de revolução daquela espécie.

É interessante, pois acompanhamos Caesar, desde um bebê, até o seu último respiro, é um arco bem desenvolvido, de um personagem complexo desde a sua captura de movimentos pelo Andry Serkis, e personalidade no texto.

Quando iniciamos Planeta dos Macacos: O Reinado, agora nas mãos do diretor Wes Ball, temos uma breve recapitulação, gosto desta ferramenta no cinema, pois quando entramos de fato na história do filme, já estamos pré-aquecidos, acho uma ferramenta narrativa bem efetiva em franquias que passam um tempinho para retomar após um encerramento de arco.

O filme se passa 300 anos após a morte de Caesar, e somos apresentados a Noa (Owen Teague) e seus amigos macacos, Soona (Lydia Peckham) e Anaya (Travis Jeffery). Que estão em busca de ovos de aves para que eles possam passar por uma espécie de cerimônia de iniciação. Após alguns eventos, a aldeia do nosso protagonista é atacada e vários macacos são mortos e levados pela clã rival. Noa se vê sozinho em busca de jornada para salvar sua família.

Já nesse início eu senti o peso da narrativa se arrastar, pois o filme demora a ganhar ritmo, o filme fica tentando explicar como funciona aquela comunidade repetidas vezes. Se repete ao explicar a importância do ovo para a cerimônia por exemplo, mas gosto dos momentos de Noa com seus amigos, senti falta de um investimento maior na relação de seus personagens, me parece que o filme se perde quando quer explicar demais o mundo e acaba deixando as relações pessoais de lado.

Mais à frente no filme, somos apresentados ao Raka (Peter Macon), uma orangotango estudioso, e Nova (Freya Allan), uma humana que fugia do mesmo clã que sequestrou a família de Noa. Nesse momento esses personagens trazem relacionamentos mais pessoais ao filme, aproximando os personagens, nos contando como Caesar se tornou uma lenda, lenda essa, que não era conhecida por todos os macacos, como imaginávamos. Toda essa construção de mundo é feita por diálogos mais intimistas, de uma forma menos expositiva e mais direta, deixando por um curto período do filme, a nossa imaginação complementar o contexto, enxugando a decupagem, melhorando o ritmo do filme.

É uma pena que o longa acabe perdendo sua personalidade muito rápido, onde personagens são desperdiçados, com a precoce morte de Raka, o filme segue pelo caminho das grandes conspirações para derrotar o vilanesco líder. Abre mão de trabalhar melhor as relações de seus personagens para tentar criar uma personificação do império romano, mas que na minha visão, não elabora bem a discussão sobre colonialismo, pois logo em seguida o filme foca em querer seguir por outro caminho, perdendo rapidamente seu foco. Agora a intenção é mostrar como a humanidade está tentando se reerguer perante o domínio símio. Tematicamente, o filme vai perdendo a personalidade, vai atropelando suas discussões e construção de mundo para querer explorar outras coisas, e mesmo com seus 145 minutos de projeção, não é o suficiente para elaborar bem essas diversas abordagens.

É engraçado que ao escrever esse texto, eu mudei de opinião sobre o filme duas vezes, gostei mais e desgostei mais. Talvez tenha faltado ao Wes Ball, visão para definir melhor que tipo de filme ele queria fazer. No fim, a série continua com um visual impressionante, mas senti falta de mais cor no filme, achei um trabalho de cores sem vida, se aproximando demais do realismo e se afastando da criatividade.

Nota: 2/5

Direção: Wes Ball

Ano: 2024

--

--