Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice

Ítalo Passos
3 min readSep 5, 2024

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Tim Burton se abre a uma narrativa despretenciosa e divertida.

Nunca fui um grande admirador do cinema de Tim Burton, não por ele ser um diretor ruim, porém não é sempre que compro a estética gótica cartunesca que ele implementa em seus filmes, é difícil conseguir mergulhar na narrativa que ele desenvolve, geralmente seus filmes me perdem em algum momento. Isso me fez ficar sem ver algo do diretor por bastante tempo. Entretanto, existem sim obras que eu acho interessantes, sua estética funciona bem em Batman: O Retorno (1989), vejo a imaturidade de Edward Mãos de Tesoura (1990) conversar com seu lado mais cartunesco, assim como conversa com seu lado mais gótico diretamente. Também subvaloriza seus personagens, em Os Fantasmas se Divertem (1988), Burton investe a primeira metade inteira do filme em personagens chatos que interagiam entre si com diálogos monótonos, enquanto Beetlejuice (Michael Keaton) fica o filme quase todo aguardando seu momento para brilhar, é como se Burton não entendesse quem é seu protagonista, mesmo o personagem dando título ao filme.

Após uma tragédia familiar, três gerações da família Deetz voltam para casa em Winter River, mesma cidade em que se passa o primeiro filme. Ainda assombrada por Beetlejuice, a vida de Lydia (Winona Ryder) vira de cabeça para baixo quando sua filha adolescente, Astrid (Jenna Ortega), acidentalmente abre o portal para a vida após a morte.

É interessante como o filme equilibra sua narrativa visando dois pontos, o passado com toda sua carga nostálgica, sendo trabalhada em todo o filme, com cenas e cenários que remetem ao filme original. Já o futuro é quando a narrativa trabalha as visões e desejos dos personagens, sempre mirando um futuro diferente. Astrid busca se desvincular da imagem da mãe, que é conhecida por ter um programa de TV cujo a abordagem principal é um conteúdo sobrenatural.

Eu acho lindo como a música composta por Danny Elfman nos envolve em um ritmo fantasioso, ela é complexa, com instrumentos de sopro, com percussão e vozes. Fugindo totalmente da fórmula minimalista que assola o cinema de hollywood nos dias atuais. Isso já traz um mérito artístico a obra que nem mesmo o original conseguiu fazer tão bem.

Ao que se propõe, ser uma aventura entre o mundo dos vivos e o dos mortos, o filme consegue ser bem consistente, dividindo o tempo de seus personagens para entendermos o mínimo de como eles se relacionam com outros. O arco da Astrid tem elementos de um coming of age, já o ponto de vista de Lydia é de não conseguir se conectar com a filha, criando situações divertidas durante essas subtramas.

Entretanto, o filme também conta com soluções desnecessárias, não vejo a Delores (Monica Bellucci) como uma personagem justificável, já que ela adentra no filme (em uma cena bem divertida, isso é fato), segue Beetlejuice durante boa parte da trama, é derrotada de uma forma boba e não tem um impacto algum na trama, a não ser para criar cenas engraçadas com o passado do protagonista. Nesse ponto também vejo evolução em relação ao original, ao dar mais tempo de tela a Beetlejuice e explorar mais o mundo pós vida criando um universo mais consistente, apesar disso também trazer um certo fan servisse gratuito.

Jenna Ortega segue sem mostrar muita diversidade em suas escolhas na carreira, mas entendo que a indústria a induz a aceitar esses papéis para que a atriz não caia no esquecimento. É sempre bom lembrar que existem diversos casos de atores ou atrizes que perdem espaço em Holywood por não querer seguir os padrões da indústria. Winona mesmo com uma limitação consegue entregar um trabalho honesto, com diversos momentos bem engraçados, junto a Catherine O’Hara, que também tem seus momentos. Mas quem se destaca mesmo é Michael Keaton absolutamente pirado e se divertindo à beça.

É um filme consciente de sua bobagem, trabalha seu humor em cima disso e acaba funcionando bem como um filme despretensioso, consegue desenvolver bem suas tramas e cria uma coesão entre seus personagens, o filme ainda conta com a participação sempre bem-vinda de Willem Dafoe. Mesmo se escorando na nostalgia de forma exagerada em certos momentos, o filme tem sua graça.

Nota: 3,5/5

Direção: Tim Burton

Ano: 2024

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