O apático ‘Tipos de Gentileza’

Ítalo Passos
3 min readAug 22, 2024

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Na retomada de sua linguagem pré-hollywood, Lanthimos abusa de personagens superficiais e de uma trama desinteressante.

Eu refleti bastante antes de começar a escrever mas não eram reflexões complexas ou inspiradoras, pelo contrário, a falta de qualquer tipo de sentimento foi o que me fez demorar tanto a pôr as ideias pra fora. É complexo iniciar uma linha de raciocínio sem ter algum gatilho que te inspira ou que te passa um sentimentalismo, cinema não é só técnica, nunca foi, antes de tudo, cinema é sobre o olhar das pessoas, e através desse olhar, é como nós consumimos nossas vivências e moldamos nossa personalidade. Disso virá o nosso gosto, através de nossas vivências e olhares, então, isso já diz muito sobre o que achei do novo filme do Yorgos Lanthimos.

Particularmente sempre achei bem interessante os trabalhos do diretor, sejam por suas “bizarrices” ou por sua linguagem mais visual, usando de um certo grafismo exagerado ou de lentes grande angulares que distorciam a imagem. Nada disso nunca foi um problema, nem mesmo quando ele “aliviou” seus filmes para adentrar em hollywood passei a desgostar, talvez tenha até passado a apreciar ainda mais.

O grande problema de Tipos de Gentileza é a sua exagerada tentativa de criar uma narrativa bizarra, cria uma estrutura que conta com que tudo gire em sincronia para funcionar (o que não acontece). Como eu falei antes, a bizarrice não é um problema, é só uma ferramenta, dos três contos que completam o filme, apenas um é minimamente interessante. No primeiro conto fiquei curioso para entender o vínculo entre o personagem do Jesse Plemons e do Willem Dafoe, de entender a necessidade daquele cara em fazer parte de algo a qualquer custo, mesmo que aquilo significasse ser uma mera ferramenta, aguardando ansiosamente pelos contos seguintes para complementar toda aquela história ou criar uma lógica entre elas, estava aberto até mesmo a esperar algo sem ligação alguma e aquele primeiro conto era algo que eu teria que refletir comigo mesmo, o que seria ótimo.

Mas os dois contos seguintes seguem por uma mesma lógica, brincar com a crença e a paranoia dos personagens. A crença entre eles é rapidamente transformada em uma desconfiança óbvia, e a paranoia reflete a exagerada mão do Lanthimos em não conseguir mais extrair nenhum tipo de curiosidade em sua narrativa, isso acaba fazendo o filme desmoronar, pois desde o início essa curiosidade era o principal motor a nos engajar naquela história. Enquanto no último conto, nos afogamos nessa falta de interesse e monotonia, o segundo conto segue por um caminho pior, que é basicamente o diretor recriando seu curta-metragem Nimic (2019). Além de bobo, desequilibra completamente a estrutura que ele preparou no primeiro conto, retomando-a apenas no terceiro e concluindo a ligação de todos três apenas em uma cena durante os créditos. Tem algo que represente mais a desinteressante Hollywood atual do que filme que coloca sua conclusão em uma cena durante os créditos?

É meio patético de minha parte transformar esse texto em um desabafo, mas eu sinto muito pelo Jesse Plemons, que por tanto tempo merecia um papel de destaque em um filme de algum diretor hypado, e quando finalmente chega à sua vez, ele tem que tirar leite de pedra, literalmente tendo que dar vida a não só um, mas três personagens mal escritos e dirigidos.

Eu não pretendo me alongar mais, acho Tipos de Gentileza um trabalho bastante prejudicado pela própria incoerência de seu idealizador, que cria toda uma atmosfera e cenários com cores sóbrias, apenas para ficar bonito nas imagens de divulgação, pois é um filme que definitivamente me fez sair da sessão apático, sem ter nada a dizer.

Nota: 1/5

Direção: Yogos Lanthimos

Ano: 2024

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