‘Mad Max: Estrada da Fúria’ a epopeia da ação

Ítalo Passos
4 min readMay 16, 2024

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Filme de George Miller vai além do gênero, expande seu universo e reage ao patriarcado.

Lembro da primeira vez que vi Estrada da Fúria, em uma sala IMAX, som maravilhoso, me arrepia só de lembrar o quão grandiosa foi minha experiência, marcou demais. O que me anima, é que a cada revisita, Estrada da Fúria me mostra um lado diferente de suas facetas, o quão rico este filme é, desde seu conceito de mundo, com suas mitologias, termologias, adaptações. Até as vestimentas, que são minimamente elaboradas, que ajuda a desenvolver alguns dos arcos de cada personagem.

Max (Tom Hardy) é “desmontado” logo no início do filme, e a partir disso, até o final, estará em busca de se completar novamente, isso fica simbolizado quando ele vai recuperando suas vestimentas e acessórios durante a jornada, aos poucos, Max vai terminando a se remendar. Já, Furiosa (Charlize Theron) é uma personagem quebrada, que nos é apresentada com os olhos marejados, como se estivesse sentindo uma dor física. A mesma que, em certo ponto da trama, se desprende das amarras coloniais e abusivas que a prendiam, e, que, ao aceitar seu destino, se remonta, toma conta de si, livre de suas amarras, mas ainda presa aos seus traumas. Ambos se descontroem e se constroem, ambos buscam redenção.

Miller abusa da aceleração de quadros para dar mais dinamismo e urgência nas cenas de perseguição. A direção de fotografia é fundamental, usando zoom para ajudar na imersão de impacto nas cenas de ação do filme. Miller brinca com a profundidade de campo, explorando os ambientes abertos, dá muitos closes nas as expressões dos olhos arregalados dos personagens, é interessantíssimo como o diretor explora as reações de seus personagens de acordo com cada situação absurda.

Essa noção do absurdo no próprio mundo, define bem como o ritmo é bem pensado, já que o comboio de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), conta com um guitarrista cego, preso a caixas de som, tocando notas pesadas de guitarra, tudo isso com um instrumento que solta chamas. Quase como um bardo das estradas. Esse personagem envolve toda a música que dá ritmo as longas sequências de ação, diegéticamente, ou seja, aquela música faz parte do mundo do filme. Isso faz com que a imersão seja ainda maior.

Além da guitarra pesada, o filme abraça um tom épico, quase se tornando uma pintura a óleo, enquanto uma tempestade de areia colossal destrói todas as máquinas de guerra que ousam lhe enfrentar. É um filme que conta sua história sem grandes linhas de diálogos, explora as imagens, nos dá contexto através delas, elabora a mitologia, com os closes nos volantes que são praticamente a identidade dos War Boys.

É um filme que claramente coloca Max Rockatansky como um contador de histórias, ele é de importância mínima para o gatilho da trama, tudo ainda iria acontecer da forma que se iniciou, com ou sem o personagem.

Max só vai ser efetivamente influente, quando aceita sua redenção. Mas como para sobreviver, ele precisa lidar com o acaso, ele precisa cruzar com a história de Furiosa. Ela, como protagonista, tem suas dores e traumas explorados, os motivos que a faziam ter os olhos marejados, sua identidade não lhe pertencia, mesmo poderosa, e com o título de imperatriz, Furiosa era presa a um controle autoritário sobre seu corpo.

Miller consegue construir em meio de todo o caos, uma grande exposição do patriarcado, de como ele usa os corpos femininos para seus prazeres carnais, vícios luxuriosos e reprodução, é onde está a sua maior demonstração de poder. Immortan Joe é a personificação de como o homem enxerga a mulher como uma mercadoria, ou uma ferramenta de reprodução e prazer.

George Miller nos entregou uma obra absolutamente enérgica, complexa em sua mitologia, e simples em sua narrativa. Mas é através da simplicidade, que Estrada da Fúria se torna um filme tão poderoso. Colocando Max, como um contador de histórias, um observador, explorando ao máximo o poder das imagens, deixando as pessoas vidradas, com os olhos impregnados na tela, criando um laço entre Furiosa e Max, mas como um bom contador de histórias, Max sempre tem que seguir o seu caminho sozinho, já, Furiosa, segue seu épico para transformar desespero em esperança, indo de encontro a sua redenção. Mad Max: Estrada da Fúria é uma epopeia da ação.

Nota: 5/5

Direção: George Miller

Ano: 2015

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