‘Alien: Romulus’ abraça a escuridão e encara horror de forma frontal

Ítalo Passos
5 min readAug 15, 2024

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Novo filme de Fede Álvarez traz novos ares a série utilizando de uma atmosfera já conhecida, mas esquecida dentro do próprio universo.

O diretor uruguaio Fede Álvarez apareceu para o cinema mainstream em 2013, quando dirigiu o remake de Evil Dead. Ali, Álvarez já se mostrou um diretor muito criativo esteticamente falando, mas não só isso, mostrou muita habilidade com a câmera, entregando um filme aterrorizante e que não deve nada ao original, claro, levando em consideração a época de lançamento de cada um. Assim como O Homem nas Trevas, onde construiu um ótimo suspense com um protagonista cego. Álvarez também foi responsável pela adaptação de Millennium: A Garota na Teia de Aranha, o que considero o filme menos interessante na filmografia recente do diretor. Até que chegamos em 2024 e dessa vez, Fede tem um trabalho difícil, em dar novos ares a série Alien.

Alien: Romulus se inicia com uma equipe de exploradores que descobrem um Xenomorfo fossilizado, onde uma equipe de pesquisas leva esse fóssil para experimentos. Logo, nós somos apresentados a um planeta colônia, onde pessoas trabalham exaustivamente em mineração e colheita. É onde conhecemos Rain (Cailee Spaeny) e seu androide Andy (David Jonsson), que estão em busca de uma passagem para fora daquele mundo abusivo. Nesse planeta, entendemos que as pessoas estão ali presas, sem direito de sair, a menos que paguem uma determinada hora de trabalho, hora essa que Rain já havia batido, mas devido à pouca mão de obra, a grande corporação nega seu direito, fazendo-a ter que trabalhar no mínimo mais seis anos para poder partir. Nesse contexto, Rain e alguns amigos vão até uma estação espacial abandonada na órbita desse planeta, lá o grupo se depara com um cenário de horror.

É um filme que representa a humanidade refém do capitalismo, onde o dinheiro controla a vida de cada uma daquelas pessoas, seja para dar ou tirar direitos. O capitalismo é quase algo divino, onde se manifesta até nas diretrizes dos Sintéticos que aparecem durante a trama. Existe um momento mais à frente no filme, em que um dos personagens fala que os seres humanos não tinham condições de colonizar outros mundos, por serem seres muito emotivos para fazer o que era preciso, mas o filme nos mostra que os humanos poderiam sim faze-lo, porém a humanidade se tornou uma mera ferramenta do capitalismo, esse sim sendo inábil.

Como mencionei acima, Álvarez tem muita criatividade estética e o seu filme se inicia na escuridão silenciosa do espaço, aos poucos a imagem vai ganhando luz e mostrando uma nave, essa habilidade de trabalhar as sombras é essencial para que a ideia proposta por Álvarez funcione, durante todo o filme as trevas abraçam os personagens ao mesmo tempo que tentam fugir delas, no fim, acabam indo em direção a essa escuridão novamente. É belíssimo como o diretor em diversos momentos inicia sua cena no breu absoluto e aos poucos a cena ganha vida, para em seguida ter que adentrar nas sombras novamente. Os personagens principalmente seguem muito essa fórmula em vários planos.

Além desse clima opressor e sombrio, temos uma expansão do universo da série, as colônias mencionadas acima impõem uma peso a mais nos personagens, como se eles estivessem sempre cansados e no limite pela sobrevivência. A introdução do filme ser exatamente nesses campos de trabalho junto ao ótimo trabalho de atuação da Cailee Spaeny e de David Jonsson, mostram que todos eles já viviam em um ambiente de horror.

Gosto como a Rain é uma personagem crescente aos poucos ela vai adquirindo ferramentas e informação, avançando em direção a sua sobrevivência, é interessante como a narrativa me lembrou a de um vídeo game, já que justamente esse processo da protagonista faz com que a mesma chegue no final completamente diferente, não por ser uma “porradeira” ou algo do tipo, mas sim por ela abraçar as sombras para sobreviver, como se chegasse além de mais experiente, com recursos importantes, que são colocados de formas bem naturais na história, a arma que ela recebe para se proteger do Xenomorfo é um bom exemplo, mostrando que o equipamento tem uma assistência de mira, tornado tudo mais verossímil. Jamais Rain adquire algum item que não seja para ajudar na sua jornada, é tudo muito alinhado para esse clima de horror espacial fascinante, com um toque de ação bem equilibrado.

A luz vermelha/laranja que geralmente em filmes de horror nos trazem uma sensação de perigo ou atenção, é utilizado aqui de uma forma que vai além da beleza estética, ela tem uma função de guiar os personagens na escuridão, ou seja, o único ponto de luz para aqueles personagens podem se guiar é o perigo e a urgência.

Não posso dizer que Alien: Romulus é uma surpresa, pois sempre achei os trabalhos do Fede Álvarez bem consistentes. Mas me deixa positivamente surpreso ver um diretor que não tem medo de encarar o horror de forma frontal, nos mergulhando em um universo extremamente hostil, com uma criatura que é esteticamente imponente, quanto emblemática. O diretor traz ao Xenomorfo toda sua natureza cruel e amedrontadora, finalmente, após o personagem ter sido transformado em um mero capanga de roteiro por tanto tempo.

É um filme que consegue criar situações bem legais quando se trata de trazer referências de dentro do próprio universo, seja por um personagem inesperado ou por um enquadramento específico. Assim como Alien: Romulus se inicia surgindo na imensidão obscura do espaço, ele se encerra sumindo na mesma escuridão e silenciosa.

Nota: 4/5

Direção: Fede Àlvarez

Ano: 2024

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